Estudantes baianos criam HQ “Guardiões” contra bullying na escola

Estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Formação e Eventos Isaias Alves (ICEIA), localizado no bairro Barbalho em Salvador, desenvolveram a revista em quadrinhos intitulada “Guardiões da Inocência”. A publicação serve como instrumento para fomentar o engajamento dos alunos na promoção de um espaço educacional seguro, marcado por respeito e inclusão. O projeto busca capacitar os jovens como agentes de mudança, direcionando esforços contra práticas como bullying, cyberbullying, discriminação racial, preconceito e formas de violência, incluindo a de natureza sexual. Essa abordagem visa não apenas alertar, mas também estimular a cidadania ativa dentro da comunidade escolar, utilizando narrativas visuais para alcançar maior impacto entre o público adolescente.
A origem do material surgiu de discussões coletivas envolvendo as professoras Marta Rebouças e Mayama Oliveira, que inicialmente conceberam uma cartilha sobre convivência escolar. Essa proposta foi submetida à diretora Maribel Costa, responsável pela gestão do ICEIA. Após análise de referências sobre materiais educativos, a diretora sugeriu adotar o formato de quadrinhos como meio principal de disseminação, considerando sua capacidade de atrair e reter a atenção dos estudantes. Essa decisão estratégica ampliou o escopo da iniciativa, transformando uma simples orientação em uma produção criativa que integra elementos narrativos e visuais, adaptados ao contexto da educação pública baiana. O envolvimento da equipe pedagógica reforça o compromisso com práticas inovadoras para o bem-estar dos alunos.
A coordenação técnica ficou a cargo da professora Anara Improta, vinculada ao Curso Técnico em Artes Visuais do ICEIA. Ela mobilizou alunos do curso para assumirem a criação do conteúdo, aplicando conhecimentos adquiridos em disciplinas como desenho e design gráfico. A narrativa da revista adota o tema de super-heróis, com cinco personagens principais representando a diversidade: incluem figuras com autismo, vitiligo, deficiências físicas (PCDs) e traços que desafiam padrões convencionais de aparência. Esses guardiões, inspirados em estudantes reais da instituição, exibem personalidades variadas e interesses pessoais, sempre apoiados pela direção, coordenação e corpo docente. Essa estrutura busca espelhar o dia a dia escolar, facilitando a identificação dos leitores com as situações retratadas e promovendo empatia por meio de histórias acessíveis.
No processo seletivo, a ênfase recaiu sobre os matriculados no Curso Técnico em Artes Visuais, que executaram desde o esboço dos personagens até a composição das cenas. Anara Improta destacou que a linguagem dos quadrinhos se alinha à preferência da juventude por conteúdos dinâmicos, evitando abordagens didáticas tradicionais que podem soar distantes. A escolha por antagonistas simbólicos, como um vilão representando atitudes tóxicas, permite explorar dilemas éticos de forma lúdica, sem perder o foco educativo. Além disso, a produção incorpora elementos de roteirização e construção de cenários escolares reais, ampliando o realismo e a relevância para o ambiente do ICEIA. Essa metodologia prática não só combate problemas como o bullying, mas também valida as habilidades técnicas dos participantes, integrando aprendizado formal com aplicação imediata.
A primeira edição concentra-se especificamente no combate ao bullying, ilustrando impactos emocionais e sociais dessa conduta no cotidiano escolar. O estudante Sebastian Gabriel, um dos colaboradores, enfatizou que a revista transmite a ideia de que os alunos não enfrentam esses desafios isoladamente, com suporte institucional sempre disponível. Ele comparou o projeto a uma volta às origens criativas da infância, resgatando a expressão artística em momentos de vulnerabilidade. Essa perspectiva reforça o papel da publicação como ferramenta de empoderamento, incentivando relatos e intervenções precoces contra agressões verbais ou físicas. O conteúdo evita julgamentos morais, priorizando mensagens de solidariedade e acolhimento para construir uma cultura de prevenção dentro da rede estadual de ensino.
A aluna Beatriz Nascimento, também envolvida na criação, descreveu o desenvolvimento como uma oportunidade de consolidar competências do curso. O grupo aplicou técnicas de design de personagens, elaboração de roteiros e montagem de ambientes, resultando em uma obra coesa e visualmente atraente. Esse exercício prático enriquece o currículo dos estudantes, demonstrando como o artesanato visual pode servir a causas sociais urgentes na educação. A revista, portanto, transcende o entretenimento, funcionando como um catálogo de boas práticas para convivência harmoniosa, adaptado às realidades de escolas públicas como o ICEIA. A inclusão de múltiplas perspectivas garante que o material seja inclusivo, abordando interseções entre bullying e questões de identidade, o que amplia seu potencial de aplicação em outras unidades da rede.
O lançamento oficial está programado para o final de outubro, durante a Feira de Ciências promovida pelo ICEIA. Esse evento servirá como plataforma inicial para distribuição, permitindo interações diretas com a comunidade escolar e visitantes. Ademais, o projeto foi selecionado para a Etapa Estadual do Encontro Estudantil, agendado para dezembro na Arena Fonte Nova, em Salvador. Nessa ocasião, exemplares serão exibidos e distribuídos ao público, ampliando o alcance da iniciativa para além das fronteiras locais. Essa progressão destaca o reconhecimento oficial do trabalho, alinhando-o a políticas educacionais baianas que priorizam a formação integral dos alunos. A participação em feiras e encontros reforça a visibilidade do ICEIA como polo de inovação pedagógica, inspirando réplicas em outras instituições.
Além do foco temático rotativo, planejado para edições futuras abordarem outros aspectos da vida escolar como cyberbullying e violência sexual, a revista incorpora princípios de representatividade para combater preconceitos enraizados. Os personagens diversificados não são meros acessórios, mas protagonistas que ilustram resiliência e colaboração, com narrativas que integram o suporte de adultos educadores. Essa abordagem holística visa mitigar o isolamento de vítimas, promovendo redes de apoio que se estendem à família e à sociedade. No contexto da rede estadual, iniciativas como essa respondem a demandas por materiais educativos culturalmente relevantes, fortalecendo a autoridade das escolas em temas sensíveis. A produção coletiva também fomenta habilidades socioemocionais, essenciais para a cidadania contemporânea em ambientes educacionais desafiadores.
Os desdobramentos do projeto incluem potencial expansão para cartilhas digitais ou workshops, dependendo do feedback inicial. A diretora Maribel Costa e a equipe técnica monitorarão o impacto por meio de avaliações pós-lançamento, ajustando conteúdos para maior eficácia. Essa iteração contínua demonstra expertise em estratégias de engajamento juvenil, alinhada às diretrizes de educação inclusiva do estado da Bahia. Ao priorizar narrativas visuais, o ICEIA posiciona-se como referência em combate a violências escolares, contribuindo para um ecossistema educacional mais equitativo e protetor. A iniciativa, assim, não só educa, mas também empodera gerações futuras a defenderem valores de respeito e diversidade.
A revista em quadrinhos emerge como exemplo de como recursos limitados podem gerar alto valor pedagógico, integrando arte e conscientização de forma inovadora. Com base em pesquisas internas sobre eficácia de mídias, o formato escolhido otimiza a retenção de informações entre adolescentes, superando métodos convencionais. Essa tática pedagógica, aplicada no Barbalho, pode influenciar políticas mais amplas na Secretaria de Educação do Estado (SEC), promovendo réplicas em outros centros de formação profissional. O sucesso inicial, evidenciado pela classificação em eventos estaduais, sinaliza o potencial da “Guardiões da Inocência” como modelo replicável, fortalecendo a rede de ensino público baiano contra desafios contemporâneos de convivência.
Foto: Acervo Pessoal
Fonte das informações: Noticias Home