Cadê Minha Boneca Preta? alcança 3ª edição e dobra doações

Cadê Minha Boneca Preta?! iniciou nesta terça-feira (02) sua terceira edição na Biblioteca Central do Estado da Bahia, em Salvador, com a meta de ampliar a distribuição de bonecas pretas a crianças em situação de vulnerabilidade social e reforçar o combate ao racismo por meio da representatividade nos brinquedos. A campanha, conduzida pela Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA) via Fundação Pedro Calmon (FPC), estenderá a arrecadação até 27 de novembro, quando os brinquedos serão entregues em um evento cultural dedicado à valorização da identidade negra.
Após somar mais de mil bonecas distribuídas nas duas primeiras edições, o projeto volta em 2025 sob o tema “Minha Boneca, Minha História” e mira superar esse volume com o apoio das bibliotecas públicas estaduais. Além da coleta em Salvador, a programação chega na quarta-feira (03) à Biblioteca Juracy Magalhães Jr., em Itaparica, reforçando a expansão territorial que transformou a iniciativa em política pública dentro do Sistema de Bibliotecas Públicas da Bahia.
Durante a abertura, a secretária da Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães, destacou o caráter reparatório da ação. Segundo ela, ao reconhecer o racismo como base das desigualdades, o governo assume o compromisso de posicionar os equipamentos culturais no enfrentamento às discriminações e na construção de uma educação antirracista. “Para fortalecer as infâncias, é essencial promover campanhas com dimensão estruturante”, afirmou.
O diretor-geral da FPC, Sandro Magalhães, reforçou que as bibliotecas são instrumentos de combate ao racismo e lançaram um convite direto a novas parcerias para os próximos 60 dias de coleta. Ao lado dos padrinhos da campanha — a escritora Débora Maria e o cantor, compositor e capoeirista Tonho Matéria —, ele pediu que personalidades negras adotem o projeto e ajudem a multiplicar os pontos de arrecadação em toda a Bahia.
No auditório, crianças acompanhadas por suas escolas testemunharam o lançamento. A estudante Emanuelle Conceição, de sete anos, relatou que a iniciativa a faz “ter mais confiança”, enquanto Carine Conceição, da mesma unidade de ensino, disse estar ansiosa para receber “mais uma boneca de cabelos cacheados”. Os depoimentos reforçaram a proposta da campanha de elevar a autoestima e reafirmar a identidade racial por meio da ludicidade.
A mesa institucional reuniu representantes da Polícia Militar da Bahia, Coordenação Geral de Juventude, Secretaria de Educação, Superintendência de Prevenção à Violência, Sesc Bahia, Internacional Travessias Salvador e Colgate. Antônio do Nascimento Lopes, subcomandante-geral da PM, declarou apoio ao projeto, enquanto a bibliotecária Naiara Malta confirmou a disponibilização de unidades do Sesc como postos de coleta, ampliando a rede de envolvimento comunitário.
A programação cultural incluiu contações de história dos livros “Eu Amo o Meu Black”, de Débora Maria, e “Meninas Negras”, de Madu Costa, além de intervenção do Grupo de Câmara Opaxorô (APAE) e de um bate-papo sobre representatividade negra na infância com a artista visual Vanessa Barbosa e a estudante Flor de Maria, mediadas por Rebeca Táríque. As atividades funcionaram como laboratório vivo de educação antirracista, atraindo público infanto-juvenil e adulto.
Na função de padrinho, Tonho Matéria afirmou que levará a mensagem da campanha às comunidades e citou a frase de Gilson Nascimento — “Crianças precisam de horizontes” — para exemplificar a importância de ampliar o alcance da ação. Já a madrinha Débora Maria celebrou o convite justamente no momento em que lança seu livro de forma independente, reafirmando o compromisso com a causa da representatividade.
A idealizadora do projeto e diretora da Biblioteca Juracy Magalhães Jr., Soraia Alves, lembrou que a campanha nasceu em agosto de 2023 de sua experiência pessoal como mulher negra que não se via nos brinquedos. A primeira edição arrecadou 372 bonecas e a segunda, 700. “O que era ausência e ferida virou gesto de resistência, cura e amor coletivo”, resumiu, reforçando a evolução numérica e simbólica da iniciativa.
A agenda em Itaparica começa às 10h com a peça teatral “Minha Boneca, Minha História”, seguida do Manifesto Infantil, apresentações musicais do Coral Ilha das Crianças, inauguração da Árvore da Representatividade, contações de histórias com bonecas Abayomi e rodas de conversa sobre o direito de crianças negras se reconhecerem no ato de brincar. Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade.
Até 27 de novembro, bibliotecas estaduais, unidades do Sesc e demais parceiros funcionarão como pontos oficiais de coleta de bonecas pretas novas. Ao final da campanha, a entrega dos brinquedos ocorrerá em um evento cultural com oficinas artísticas, reforçando a proposta de aliar doação material a formação cidadã. A FPC divulgará, nas semanas anteriores, o balanço parcial de arrecadações e a programação definitiva da cerimônia de entrega.
Crédito Foto: Erlon Sousa – Ascom/Sepromi
Fonte das informações: Ascom/FPC